Você tem dúvidas sobre o Dízimo? Então pegue a sua Bíblia e nos acompanhe neste Estudo Biblico Completo sobre o Dízimo:

Introdução: Estudo Biblico Completo sobre o Dízimo

Existe uma forte corrente teológica nas redes sociais e em sites da internet que afirma que o dízimo do Antigo Testamento não era ofertado com dinheiro (moedas) e sim com produtos (alimentos vegetais, animais, pães, farinha e etc.).

De certa forma isto até que está correto, porém o que não está correto é afirmar que eles alegam essa verdade para justificar que a doutrina do dízimo somente valia para o Antigo Testamento, e não mais vale para o novo.

Em suas palavras, Jesus aboliu a lei do Antigo Testamento. Para tal afirmação, eles se baseiam no texto da carta do Apóstolo Paulo aos Romanos que diz: “Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.” Romanos 10:4.

Para esclarecer esse relato é necessário que você entenda o conceito contextual histórico e assim seja feita uma boa hermenêutica do texto bíblico, de modo que haja pretexto para não falarmos de heresias.

O fim da lei é Cristo?

Começaremos pela questão em que o Apóstolo Paulo afirma que Jesus aboliu a lei.

Se enveredarmos por essa linha teológica, sem fazer uma boa análise do contexto histórico, colocaremos a Bíblia em xeque, pois o próprio Jesus disse:

“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim revogar, mas cumprir.” Mateus 5:17.

Nesse contexto existem dois conceitos: o contexto histórico e o conceito teológico filosófico.

O Contexto Histórico

No contexto histórico, se você ler todo o livro de Levítico e todo o livro de Deuteronômio, verá que a época era regiada por três conjuntos de leis:

  • A lei moral baseada no decálogo (dez mandamentos);
  • Lei civil, que regia o título de propriedade de terras, casamentos, heranças, etc;
  • A lei cerimonial, que estabelecia todo o ritual de purificação (holocaustos de animais para pagar pecados, descontaminação caso tocasse em algo impuro, lavagem do corpo, mãos, o pacto da circuncisão, etc.).

Foi essa última lei (lei cerimonial) que Jesus aboliu, visto que você não precisa mais sacrificar animais para pagar pecados, nem fazer circuncisão em recém-nascidos, pois Jesus já se fez pecado por nós e os cravou com seu sangue na cruz.

Portanto foi exatamente isso que o Apóstolo estava tentando explicar à igreja de Roma, pois estava debatendo com judeus que estavam querendo judaizar o Evangelho, trazendo a lei mosaica para dentro das novas doutrinas cristãs.

“Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido” 2 Coríntios 3:14.

O Conceito Teológico Filosófico

Quanto ao conceito teológico filosófico, imagine que Jesus abolindo a lei moral (dez mandamentos, “não matarás, não roubarás…”). Bom, isso seria terível para a sociedade de hoje, por exemplo.

Sendo assim o Apóstolo estava enfatizando que nós temos que viver pela Justiça de Deus através de Jesus, justiça esta que estava sendo mal interpretada e radicalizada pelo conselho sacerdotal do sinédrio, alegando que a lei foi feita para punir.

No entanto para Jesus a lei de Deus veio para justificar, e é isso que o Apóstolo Paulo enfatiza em Romanos 10:4.

Em outras palavras, o fim da purificação da lei é Cristo, pois todo aquele que tiver o Espírito Santo, viverá a justiça do Espírito, sem ter a necessidade de fazer ritual de purificação. Além disso a lei cerimonial prefigurava Cristo.

Veja o que diz o Apóstolo Paulo:

“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.” Gálatas 5:22,23

Ou seja, contra os frutos do Espírito não há lei de purificação ou de punição!

Explicação do Conceito Teológico: Estudo Bíblico Completo sobre o Dízimo

Façamos uma analogia com as leis do nosso país: o código penal por exemplo, é penal de punir quem comete crime, mas se você não comete crime esse código não te alcança?

Não, mas você não abole essa lei, abole?

Devemos lembrar do que Ele nos disse: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.”. (veja em Lucas 10:27).

Ele estava resumindo os dez mandamentos (lei moral), em dois mandamentos, pois quem ama a Deus não adora ídolos de pedra, e quem ama o próximo, não o mata, ou rouba, ou adultera.

Isto porque a Justiça de Deus é o amor. Portanto ele apenas resumiu a lei, mas não a aboliu no seu total.

A Doutrina do Dízimo só valia para o Velho Testamento? Estudo Bíblico Completo sobre o Dízimo

Voltando ao foco do dízimo, voltaremos também na história para entendermos o contexto sobre o tema.

Os Dízimos no Antigo Testamento

Antes da Lei

Há duas palavras no hebraico do Antigo Testamento para dízimo, que são aser (מַעֲשֵׂר) e ma aser (מא עשר), ambas significando décima parte e dar a décima parte respectivamente.

Dizem respeito à prática de dar um décimo da renda ou propriedade de uma pessoa como oferta a Deus.

Esse costume fora comum entre os povos pagãos, mesmo antes da regulamentação na Lei mosaica, mas da qual tomamos conhecimento pela primeira vez na Bíblia através do gesto voluntário de Abraão, que entregou “dízimos de tudo” ao sacerdote e rei Melquisedeque (veja em Gn 14.17-20).

Além de Abraão, temos o patriarca Jacó aliançando-se com Deus para entregar os “dízimos de tudo”, sob a condição de que fosse conduzido em paz e fosse trazido novamente à casa de seu pai (Gn 28.22).

Não sabemos em que momento e a quem exatamente Jacó entregou estes dízimos, visto que certamente Melquisedeque já não vivia mais.

Em todo caso, com Abraão e com Jacó vemos a atitude espontânea (de iniciativa própria) e voluntária (sem obrigação legal) para a entrega da décima parte de suas propriedades ao Senhor.

Devemos reparar que ambos os textos dizem que Abraão e Jacó ofereceram dízimos de tudo, obviamente quando diz “TUDO”, não só envolvia produtos da agropecuária, o que contradiz a alegação que dízimo não é só dinheiro.

Após a Lei

A nação de Israel que na época era conhecida como o povo hebreu, aproximadamente entre os séculos XIV e XIII a.C. (1.440 a 1.390 a.C.) estava recém saída do regime escravocrata do Egito.

Apesar da moeda (dinheiro) já existir a mais tempo, o povo ainda não era uma nação constituída, apenas uma sociedade nômade contendo 12 tribos no regime patriarcal, não havia uma coalizão ainda entre as tribos para o formação de um estado forte.

Portanto também não havia uma economia politizada e estruturada e o comércio era na forma conhecida como “Escambo (troca de mercadorias)”.

As moedas só começaram a ser introduzidas e circulante entre as 12 tribos de forma tímida no comércio com outros povos locais.

No entanto estas deveriam ser raras, pois Deus precisou os alimentar com maná e codornizes durante um tempo.

Logo é fácil notar o porquê Deus mandou escrever no Pentateuco a oferta do dízimo como parte da agricultura e parte da pecuária, apesar da agricultura só ganha ênfase quando o povo conquistou a terra prometida.

A moeda começou também a fazer parte da oferta do dízimo, quando Deus mandou fazer um recenseamento do povo (ver Ex 30:11-16) e era de duas dracmas (Siclos), portanto a partir daí, o dízimo não se restringiu somente dos frutos da agropecuária, mas também do dinheiro (moedas).

O Perído da Monarquia

Quando Israel faz sua transição de sociedade tribal para monarquia a contribuição passoua  ser definido como tributo ao rei, e não mais como dízimo (1ª Samuel 8:10-20).

Apesar do dízimo ainda ser dado no templo, esse tributo ao rei já era cobrado no antigo Egito muito tempo antes, no tempo de José, com 1⁄5 do que produziam (Gn 41:34).

Esse valor no entanto não era destinado ao templo de Deus e nem dos deuses egípcios, mas sim para livrar o povo da fome, esse foi o motivo do porquê nações do mundo inteiro cobram impostos obrigatórios, e não voluntário, até hoje, com o escopo de aplicar recursos em favor da sociedade.

Já no tempo do profeta Malaquias, o povo tinha voltado a Jerusalém do cativeiro babilônico onde estiveram por 70 anos sem congregar e já haviam esquecido de ofertar no templo, não só Malaquias Ml 3:10, mas também no tempo do profeta Ageu (Ag 1:1-6).

O verdadeiro significado do dízimo

A entrega dos dízimos, sob a lei mosaica, buscava tornar os crentes solidários tanto das necessidades dos ministros do culto, como do culto propriamente e dos demais membros da comunidade que viessem a padecer necessidades.

Assim, o tríplice propósito dos dízimos era:

1. Prover sustento dos levitas (inclusive sacerdotes), que eram responsáveis pelo tabernáculo e pela adoração (Nm 18.20-24);

2. Prover recursos para as diversas festas e sacrifícios (Dt 14.22-26, Êx 23:14-19, Lv 4-44), algumas inclusive se prolongavam por mais de um dia de alegre celebração e ação de graças, (Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos);

3. Prover fundos para ajudar os pobres, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros (Dt 14.28,29).

O dízimo no Novo Testamento

Não há uma doutrina sistematizada, mas…

A viúva que lançou na arca do tesouro as únicas moedas que tinha (Lc 21.2), não ficaria sem provisão devido seu gesto de fé, visto que, como se viu no último ponto acima, a arrecadação acumulada na “casa do tesouro” retornaria para ela em provisão conforme suas necessidades.

Aliás, visto que não havia sistema previdenciário em Israel nos dias de Jesus, é muito provável que aquelas duas únicas moedas ofertadas pela viúva já tenham sido, outrora, parte de algum auxílio que ela tenha recebido.

Se assim o for, a exemplo dos levitas no Antigo Testamento que também entregavam o dízimo dos dízimos a que tinham direito, esta mulher estaria entregando seu “dízimo dos dízimos” ou “oferta das ofertas”.

Que exemplo!

No Novo Testamento, a palavra dízimo aparece somente seis vezes, e, com exceção de uma única ocorrência (Mt 23.23), nenhuma delas prescreve uma ordenança neotestamentária para a prática do dízimo, senão apenas mencionando a prática já existente entre os judeus.

(Conf. Lc 11.42; 18.12; Hb 7.5-6,8-9, nestes últimos versículos faz-se menção ao dízimo entregue por Abraão ao sacerdote Melquisedeque, que prefigurava Jesus Cristo.)

Jesus e o Dízimo

Não há nenhuma necessidade que seja tão grande a ponto de não nos permitir repartir e demonstrar solidariedade para com os outros.

Com honestidade e franqueza é preciso dizer que nem Cristo nem os apóstolos deram aos cristãos alguma instrução específica quanto ao dízimo.

O texto de Mateus 23.23 e Lucas 11.42 refere-se a uma censura feita por Jesus aos saduceus e fariseus que, rigorosamente dizimavam até mesmo das menores e insignificantes hortaliças.

Enquanto desprezavam valores morais imprescindíveis como justiça, amor e misericórdia, pois eles, permitiam o comércio de animais para sacrifício e demais produtos dentro do templo, para arrecadar o dízimo deles, mas o dízimo dos dízimos dos sacerdotes não passava de insignificantes hortaliças.

Todavia, nesta censura de Jesus aos fariseus hipócritas têm-se o mais forte amparo neotestamentário para a continuidade da entrega dos dízimos, ainda que não mais submetido aos mesmos regulamentos complexos da lei mosaica (a graça simplifica o complexo!).

Jesus não diz que os fariseus deveriam abolir o dízimo em nome do amor e da justiça, antes deveriam praticar essas coisas “sem omitir aquelas”.

Ou seja, noutras palavras, Jesus está dizendo: pratiquem acima de tudo o amor e a justiça e não deixem de oferecer os seus dízimos.

Isto porque dízimos e ofertas devem ser mais que uma expressão externa de religiosidade e sim uma expressão genuína de amor e solidariedade.

Embora dirigida aos fariseus que ainda viviam sob o regime da Lei, cremos que esta instrução de Jesus persiste aos cristãos, já que nada é dito em contrário.

A crítica de Jesus é contra a hipocrisia, o culto formalista e de mera aparência, desprovido da essência da lei, que era o amor a Deus e ao próximo.

Vê-se isso na oração arrogante do fariseu no templo que se gabava de dar o dízimo de tudo quanto ganhava ao mesmo tempo em que tratava os demais homens com desprezo (Lc 18.11,12).

Conclusão

Portanto o propósito significativo do dízimo não se concentrava no valor que era oferecido (alimento vegetal, animal ou dinheiro na forma de moedas), e nem numa doutrina obrigatória.

Mas se baseia em ser numa doutrina voluntária numa oferta de amor ao próximo, uma aliança com Deus e também reconhecer a fidelidade de Deus (fazer a prova de Deus), de reconhecer que o Senhor é o Dono da prata e do ouro; “Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos.” Ageu 2:8.

E tudo que nós temos é concedido por Ele, pois o Apóstolo Paulo também afirma: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.” 2º Coríntios 9:7.

Essas são as essências primordiais do dízimo.

Um gesto voluntário de amor, tal como a oferta da viúva (Lc 21.2).

Certamente que existem pessoas mal intencionadas em cometer desvios de conduta com relação ao dízimo, desviando os seus recursos para benefício próprio, contudo não podemos utilizar isso como desculpas para não ofertar na casa de Deus, porque estaríamos cometendo os mesmos erros do povo no tempo de Malaquias e Ageu, onde havia um sacerdócio corrupto, e precisou Deus alertar os profetas para alertar o povo que por causa de um povo rebelde toda Judá estaria condenada a abandonar Deus.

E é isso que as Igrejas conclamam hoje em dia, porque precisa do dízimo para que o reino de Deus na terra prevaleça.

Escrito por Jorge da Silva Abreu

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